sábado, 27 de julho de 2013

Chimangos e Maragatos - Movimento armado de 1923

Os conflitos armados que se estenderam por onze meses  e tiveram por palco as planuras do Rio Grande do Sul ficou conhecido como Movimento Armando de 1923. Segundo o historiador gaúcho Antônio Augusto Fagundes, a Revolução de 1923, " foi a ultima guerra gaúcha, fechando a trindade que se iniciara em 1835 e continuara em 1893". 
Em virtude da Revolução Federalista de 1893 onde consolidou-se no governo do estado o memorável Julio de Castilhos gotas insurgentes rebelaram-se contra a eleição de Borges de Medeiros simpatizante e amigo do então ex-governador Castilhos. 
Neste senário destacava-se os Chimangos ( borgistas) que tinham como chefe máximo Borges de Medeiros do Partido Republicano Rio-Grandense ( PRR) e os menos destacáveis maragatos ( assisistas) que eram liderados por Francisco Assis Brasil do Partido Federalista ( PRF) . Em tese a Revolução surgiu numa conjuntura onde as oposições se uniram contra Borges de Medeiros, que se perpetuava no comando do Rio Grande do Sul, amparado Constituição Castilhista de 1891.

 Borges de Medeiros ( Chimango)

Francisco Assis Brasil ( Maragato) 

Júlio de Castilhos foi substituído na presidência do Estado por Borges de Medeiros, que seguiu adotando os mesmos métodos e que também tinha como objetivo perpetuar-se no poder. Em 1922, Borges resolve candidatar-se a outro mandato na presidência do Estado. 
Algo inusitado acontece, forma-se uma aliança que conta com vários segmentos da sociedade gaúcha para estimular uma oposição organizada. O veterano político Assis Brasil desafia Borges na disputa nas urnas. Divide-se, assim, o Rio Grande, entre borgistas e assisistas, chimangos (em referência ao pseudônimo dado a Borges por Ramiro Barcelos, Antônio Chimango) e maragatos* (como eram chamados os membros do Partido Federalista, identificados pelo uso do lenço vermelho).
Quando se anuncia o resultado das urnas, com a  vitória de Borges de Medeiros, a revolta por parte dos maragatos eclode. A comissão apuradora de votos, formada por pessoas fiéis ao governo, é acusada de fraude eleitoral pela oposição. A disputa nas urnas transforma-se em disputa pelas armas. A oposição, liderada por Assis Brasil, adere à revolta armada para derrubar Borges de Medeiros, que toma posse para um novo mandato em 25 de janeiro de 1923.
Os combates iniciaram ao final de janeiro. As cidades de Passo Fundo e Palmeira das Missões foram atacadas pelos caudilhos maragatos Mena Barreto e Leonel da Rocha, que encontraram forte resistência.
Os maragatos, que não estavam devidamente organizados para enfrentar as forças governistas, nem tinham objetivos militares definidos, ficaram confusos ao verem que a pretendida intervenção federal não viria. A continuidade da luta dependia das ações isoladas empreendidas por caudilhos como Honório Lemes e José Antônio Matos Neto, o “Zeca Netto”. Mas as operações militares ficavam restritas a regiões distantes de Porto Alegre e não conseguiram causar dano à superioridade dos borgistas. Logo os maragatos começaram a ressentir-se da falta de homens e de armas. Para Assis Brasil e seus aliados mais lúcidos ficou claro, desde logo, que não havia possibilidade de vitória militar e por isso manifestaram disposição de negociar com o lado contrário.
Zeca Netto - sentado, à esquerda - e líderes revolucionários

Zeca Netto, que se negava a fazer qualquer acordo com Borges, tentou uma última cartada. Ele pensou que, se atacasse e tomasse uma cidade importante, poderia intimidar os chimangos. Assim, em 29 de outubro, atacou Pelotas, na época a maior cidade do interior gaúcho, de surpresa, ao amanhecer, mas a manteve sob seu controle por apenas seis horas, porque as hostes governistas conseguiram se rearticular e receber reforços. Na iminência de ser atacado por forças superiores retirou suas tropas.
A partir deste episódio, já não tinham os maragatos condições de seguir lutando. Por iniciativa do governo federal, realizaram-se negociações comandadas pelo ministro da Guerra, general Fernando Setembrino de Carvalho, com a participação do senador João de Lira Tavares, representante do Congresso.
Em dezembro de 1923, pacificou-se a revolução no Pacto de Pedras Altas, residência de Assis Brasil. Borges de Medeiros pôde permanecer até o final do mandato em 1928, mas a Constituição de 1891 foi reformada. Impediu-se o instituto das reeleições, a indicação de intendentes e do vice-presidente do Estado.

Assinatura do Pacto de Pedras Altas 

Logo após o término do mandato de Borges de Medeiros assume o governo gaúcho Getúlio de Vargas que mais tarde lidera as investidas gauchas para chegar à presidência da Republica. Em 1930, a frente única rio-grandense, sob sua liderança, assume o governo do país. 

Curiosidades

Durante os conflitos de 1923 destacaram-se a forte participação dos Chimangos Oswaldo Euclides de Souza Aranha, dito Ten. Cel Oswaldo Aranha e José Antônio Flores da Cunha, dito General Flores da Cunha. Estas lideranças politicas e militares, em especial Oswaldo Aranha defenderam o grande Alegrete da fracassada invasão de Honório Lemes  empreitada em 19 de junho de 1923 com o  grande Combate da Ponte Borges de Medeiros que passa sobre o Rio Ibirapuitã. Mais tarde Oswaldo Aranha e Flores da Cunha juntamente com sua tropa capturaram Honório Lemes no Passo do Itapeví.

Depois do combate da Ponte Borges de Medeiros- foto do dia 20/06/1923

 Oswaldo Aranha 

Flores da Cunha 
Honório Lemes 

Maragatos*: A origem da palavra Maragato vem do Uruguai; o chefe gasparista Gumercindo Saraiva procedia do departamento de San José (da Banda Oriental), colonizado por espanhóis procedentes da Maragateria de Espanha.

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