O
historiador alegretense Antônio Augusto Fagundes sobre a Lagoa do Parové
escreve: "Nas fraldas da Serra do Caverá, mas já para os lados do Alegrete,
existe uma lagoa encantada, de águas mortas. Os gaúchos que passam por perto
dela, à noite, muito menos acompanham às suas margens. Conta-se que salta das
águas uma bola de fogo na garupa do cavaleiro que não sabe do encantamento ou
que, sabendo, atreve-se a por coragem ou necessidade a passar por ali altas
horas da madrugada.
Também
se diz que em época de seca pode-se ver uma grossa corrente enferrujada que sai
d’água, cuja ponta, que não se vê, mergulha no fundo da lagoa. Já botaram
juntas e mais juntas de bois mansos para puxarem a corrente e nada! A Lagoa do
Parové está lá, quieta e linda, verdadeira atração buscada por poetas e
namorados, pois nasceu de uma história de amor.
Na
região, nos tempos de antigamente, vivia uma tribo de Charruas, índios que
foram os primeiros alegretenses. Dessa tribo, uma índia jovem e formosa era a
paixão dos guerreiros, cada qual procurando fazer as façanhas mais perigosas
para conquistar o seu esquivo amor.
Disque
um deles, certa feita, viu na beira da lagoa um cavalo como não existia outro.
Então pensou em bolear o belo animal para ofertar à sua amada o fruto da
proeza. Mas – coisa estranha! – o cavalo continuava parado, no mesmo lugar,
vendo que o índio se achegava. Tanto, que este guardou as boleadeiras e foi se
arrimando, assobiando suavemente, falando baixinho. E vai, tirou o bocal e as
rédeas de sua montaria de confiança e botou os aperos no estranho cavalo. Aí,
passou para o lombo deste o couro de jaguaretê que usava para montar. Isso
feito, alçou a perna e montou, de um salto.
Então
sim: o cavalo disparou, desbocado, direito à lagoa. E assim como veio se atirou
n’água, levantando maretas. E desapareceram para sempre cavalo e cavaleiro.
A
índia amada soube da tragédia e foi chorar na beira da lagoa. Suas lágrimas
amargas tornaram a lagoa salobre – Parové, na língua dos índios".
A
conterrânea Izabel Trindade escreve em seu blog Izabel Tradicionalista, o
seguinte sobre os índios pampeanos, especialmente os charruas que habitaram às
margens da lagoa: "O grupo dos pampeanos esteve constituído pelas parcialidades dos
Charruas, Minuanos, Guenoas, Yarós, Guaicurus, Chanás, Mboanes. Ocupavam o sul
do RS, na região da Campanha; o sul do rio Jacuí e Ibicuí, entre os rios
Quaraí, Jaguarão, Camaquã, Serra do Herval e parte sul do litoral (lagoa Mirim
e Mangueira), além dos atuais territórios das Repúblicas do Uruguai e
Argentina. Dentre eles, os que mais se destacaram foram minuanos e charruas.
Os Mbaias eram indivíduos altos, com
costumes e hábitos diferentes dos demais e inimigos tradicionais dos índios da
nação Guarani.
Os charruas eram escuros, quase
negros e os minuanos eram bem mais claros. Todos falavam língua quíchua. A
menina Charrua recebia listras coloridas na testa, quando entrava na puberdade
e todos cortavam artelhos em sinal de luto.
Na caça, usavam boleadeiras, com a qual desenvolveram a prática de laçar,
fato que explica serem eles, posteriormente, exímios cavaleiros e preadores de
gado. Pescavam com rede e com flechas. Suas armas eram arco, flecha, lança,
funda. Na guerra, usavam lanças e por isso foram excelentes lanceiros".
Muitos relatam que João da Silva foi abandonado na macega
por um grupo de índios charruas que estavam de passagem pelo Durasnal. O senhor
Balduíno da Silva Valle adotou e terminou de criar o João.. Depois de
"grande" ele duelava com os Jacarés na Lagoa do Parové. Muitas vezes
atravessou a lagoa a nado e gineteou nos "Cavalos Marinhos", dizem
que a Lagoa tem uma conexão com o oceano e que no verão os cavalos passam por
ela.
Outros relatam a existência de uma sereia. Moradores
mais antigos contam como haveria nascido a sereia, segundo eles há muitos anos
uma mulher, muito bela por sinal, que morava nas proximidades da lagoa ganhou
um bebê. Sempre quando alguém ia ver a recém nascida a parteira dava
desculpas que a criança estava dormindo, ou estava gripada, assim sempre havia
uma desculpa para evitar que as pessoas a vissem.
Numa
dessas visitas, uma senhora, cujo nome não é para nossos ouvidos, avistou a
parteira em fuga com a criança enrolada em panos de seda fugindo em direção da
lagoa. Vendo aquela cena, a senhora seguiu a parteira até as margens da lagoa
onde presenciou uma cena que nunca imaginara ver em sua vida. A parteira
desenrolava os panos, fazia as últimas orações e de repente caiu por água uma
criatura metade peixe, metade mulher. Sim, uma sereia, da cintura para baixo
tinha escamas e caldas, e para cima era perfeita como uma mulher.
Em
estado de choque a senhora que presenciou tudo, voltou a sua casa e relatou o
que viu a seu marido e filhos que voltaram as margens da lagoa para ver a
sereia e nada encontraram além de panos brancos de seda espalhados pelo chão.
Reza
a lenda que de tempos em tempos a sereia faz aparições a pescadores que se
atiram nas águas encantados pelo seu belo canto e afogam seus amores nas águas
amargas da Lagoa do Parové. Muita gente viu.
Moradores
mais “antigos” da região, conhecedores da história local falam ainda de um mangueirão de pedra que localiza-se próximo a
Lagoa do Parové. Segundo eles, tal mangueira é construção dos Jesuítas.
Associam aos jesuítas a construção de várias cercas de pedra da região que pertenceriam aos campos da Estância Jesuítica Santa Maria do Pillar, porém,
alguns divergem visto que há indícios que nos levam a crer que tais cercas são
construções portuguesas, erguida pelos escravos.
Outros
tantos acreditam que no fundo da lagoa, junto com a corrente de ouro que
atravessa a lagoa de margem a margem, esta o famoso tesouro da esquecida
Candelária do Ibicuí.
A
Lagoa do Parové esta situada na localidade do Parové, no Passo Novo, 2º Distrito
de Alegrete. Possui aproximadamente 1.100 metros de comprimento e 600 metros de
largura e integra a lista de locais de interesse do Comitê da Bacia
Hidrográfica do Rio Ibicuí. Suas águas são oriundas do Reservatório Aquífero
Guarani, as “sobras” d’água formam um banhado que dá subsídios para a formação
de um arroio, ao sul, que deságua no rio Queromana, Caverá, Ibirapuitã, Ibicuí
e Uruguai.
A
Lagoa do Parové é nosso patrimônio turístico e cultural. Hoje 19 de abril, dia
do índio, temos que refletir sobre as circunstâncias com que foram conquistados. Somos nós os invasores desta terra que por
direito são deles. Aos charruas e minuanos fica aqui meu reconhecimento, em
especial à Família Kerch do Jacaquá, verdadeiros remanescentes destas tribos.
Para
quem ainda não conhece a Lagoa do Parové, fica aqui o meu convite. Pegue seu
mate e venha conhecer este atrativo turístico encravado no “coração do Alegrete”.
Como chegar na Lagoa: acesso pela BR-290, Km 537, Estrada da Cascata, dista
cerca de 5 km da BR. Confira algumas fotos.
Fotos: Acervo Digital de Giciéli Barúa.
Localização no mapa |
Lembro da história do laço, cujo aro nunca chegava no fundo. Nos foi contado em 1967 pela Profossora Ana Lauter Rodrigues no Grupo Escolar Demétrio Ribeiro.
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