sábado, 22 de junho de 2013

Política x Politicagem?

Muitos se perguntam se politica é o mesmo que politicagem, claramente isso não é verdade. Pois bem, vamos procurar apontar as principais características da politica e da politicagem ao final você decide.
Sabemos que a politica contemporânea como um meio de conquista, manutenção e expansão do poder surge no seculo XVI a partir de um filosofo italiano Nicolau Maquiavel ( 1469 - 1527), com o livro intitulado "O Príncipe" lançado em 1513. Foi a partir desta definição que a ética e a politica tornam-se distintas. Primeiramente o modo de governo era pensado nos moldes gregos, no entanto Maquiavel rompe a forma de compreender a politica antiga a partir de seu pensamento.


 Vejamos alguns pontos defendidos pelos gregos:
 * A ciência politica deve ser a ética de toda  uma sociedade, por isso o bem do individuo é o bem da sociedade.
* Politica deve buscar compreender o estado ideal.
Agora observemos algumas ideias de  Maquiavel:
* A politica é resultado da ação social baseando-se nas lutas ou nas divisões sociais.
* Não há busca por um estado ideal, mas sim uma descrição da prática politica da época.
Maquiavel pregava que a finalidade da politica não era como diziam os gregos, a "justiça" e o "bem comum" mas sim à conquista e a manutenção do bem comum. Na manutenção do poder a lógica da força se transforma em lógica da lei e do poder.
Maquiavel não aceitava a divisão clássica das três formas de governar e poder politico: monarquia, democracia e aristocracia. Qualquer modelo politico pode ser legitimo se for uma republica onde haja a liberdade e não despotismo e tirania. O príncipe ou seja o governador ( no caso do Brasil o presidente) deve ter "virtu" , deve ser flexivo às circunstancias, mudando com elas para que esteja em posição de "domínio" da situação mesmo que deva fazer uso da violência, da mentira, astucia e da força.
Bom, percebemos que Maquiavel muito se identifica com o nosso modo de politica vigente. Mas será que Maquiavel se identifica com a politicagem? É o que vamos analisar agora.
De modo geral temos que bem observar o que prega a politicagem. Tendo ela como um dos métodos mais escusos de se fazer politica percebemos que  o que a qualifica como politicagem é as constantes falhas, a corrupção que tem papel de grande destaque e a manipulação midiática.
Posso aqui responder-lhes a pergunta acima: Maquiavel se identifica com a politicagem? Mas creio que a obra de Maquiavel deve ser lida e compreendida por inteiro e não fragmentada como aqui mostrei. O intuito de cita-lá é indispensável pois quando falamos de politica é impossível não falar de Maquiavel. Aconselho que se quiseres compreender quem era Maquiavel sugiro que leiam sua obra por completo façam a par dela uma profunda reflexão, sempre voltada para a politica contemporânea.
Sobre tudo aqui ressalto que politica não é o mesmo que politicagem porem vemos que estas se confundem pois detectada é a usurpação da ética por parte de muitos políticos que mancham o conceito de politica.
Veja: Politica x Politicagem




segunda-feira, 17 de junho de 2013

Raízes do Sul - Apparício Silva Rillo

Biografia

 Filho de engenheiro-agrônomo e zootecnista Marciano de Oliveira Rillo e de Dona Lélia Silva Rillo - o pai era natural de Uruguaiana e sua mãe nascida em Guaíba - , Apparício Silva Rillo nasceu em 8 de agosto de 1931, no hospital São Francisco, em Porto Alegrete. Poeta,compositor e autor de obras teatrais Apparício guarda muito grato as suas lembranças dos nove anos que residiu em Guaíba, foi neste período que nasceram seus irmãos mais novos.
                                              O poeta ao 2 anos com seu primo
                                                           Em Guaíba

Em 1982, em alusão ao tricentenário da fundação histórica de São Borja, recebeu Silva Rillo o titulo de cidadão São-Borjense já que este prestava relevantes serviços na extinta Casa Irmãos Pozueco- grande compradora de lã, couros, peles ovinas e selvagens, pelegos trigo e linhaça-, casa de grande renome nas Missões e fronteira. Desde então Silva Rillo viveu e compôs em São Borja até 23 de junho de 1995, dia se sua morte.
Dentre suas grandes obras podemos citar suas poesias:  O pai nas Fotografias, Pago Vago, Pala de Seda, Para Moça Rosa, Perfil, Pesca, Petiço Velho, Pipa D'água, Oração e contra-oração ao negro do pastoreio e tantas outras.
                                          Começou a tocar violão com 5 anos

       No tempo do linho branco...Em Guaíba
            1949, com a quem viria ser sua esposa
            Recebendo a Calhandra de Ouro na V Califórnia  da Canção Nativa
                                                    Em Uruguaiana 1975...
                                   E, finalmente aos 53 anos em São Borja
                                   Foram-se os cabelos. Os versos ficaram...

Vejamos algumas poesias de Apparício Silva Rillo:

Pipa D'água
Apparício Silva Rillo

Sobre um rodado leve de carreta, 
puxada por um petiço 
mui velho, lerdo e maceta, 
esta pipa veterana 
- no inverno cada semana 
e no verão diariamente - 
cobria meia légua de distância 
no santo ofício de suprir a estância 
com a pureza das águas da vertente. 

Assim foi anos a fio... 
E fruto dessa constância, 
dessa labuta sem tréguas, 
no estirão da meia légua, 
entre a vertente e a estância 
se cavaram muitas trilhas. 
E assim, olhadas de longe, 
serpeando pelas macegas, 
mais parecem cobras cegas 
subindo pelas coxilhas. 

Certo dia, 
uma estranha geringonça 
levantou-se na paisagem. 
E a velha pipa, de volta 
da derradeira viagem, 
foi deixando um rastro d'água 
respingado no capim. 
Rebenqueada pela mágoa 
a velha pipa andarenga 
chorava o seu próprio fim. 

Agora,
exposta à sanha do tempo
devagar se desmantela.
Ninguém mais se lembra dela
nem lhe reclama o serviço.
E aquele velho petiço
- seu companheiro de luta -
afastado da labuta
consumiu-se de desgosto.
Morreu quase ao lado dela
num fim de tarde de agosto.

Velha pipa! velha pipa!
dá-me pena ver-te ao léu.
Atirada, sem cuidados,
com os varais levantados
apontando para o céu.

Velha pipa! velha pipa!
são dois braços que suplicam,
esses teus magros varais.
Em vão, em vão, pipa d'água!
porque alheio à tua mágoa,
indiferente aos teus ais,
o esguio moinho-de-vento
girando ao sopro do vento
te responde: - Nunca mais!

Oração e Contra - Oração ao Negro do Pastoreio
Apparício Silva Rillo

Negrinho do Pastoreio, 
afilhado da Senhora 
Mãe de Deus Nosso Senhor! 
Não te vejo nem te escuto 
nesse sem-fim cor de luto 
que se chama escuridão. 
Mas os teus olhos, Negrinho, 
percebem meus movimentos 
e os teus ouvidos atentos 
recolhem a minha oração. 

Negrinho, no fim do mês, 
no que eu bote a mão nos pila 
dessa tropeada de abril, 
eu vou comprar sete velas 
na venda do Geromil. 
E acenderei todas elas, 
- cada vela num moirão - 
e esperarei sete dias 
pela tua intercessão. 

Porque eu ando precisando 
da tua ajuda, Negrinho. 
Tu te lembra da Maria 
que eu levantei na garupa 
lá por volta de dezembro 
do ano que já passou? 
Pode ser que tu não lembre... 
Mas eu nunca me deslembro 
da china boba Maria 
que um mascate carregou... 
Que um mascate carregou! 

Eu não tenho raiva dela... 
Pois não vê que essa chinoca 
sempre foi meio boboca, 
muito fácil de levar. 
Meu avô sempre dizia 
que mulher não se perdoa, 
mas eu tenho a alma boa, 
sei esquecer e perdoar. 

Eu não tenho raiva dela... 
Tenho raiva é desse cuera 
que batendo no meu rancho 
- com parada de carancho, 
mentiroso e pacholão - 
se valeu de minha ausência 
pra levantar com a Maria 
no rumo doutra querência, 
sabe Deus pra que rincão! 

Negrinho do Pastoreio, 
é a Maria que eu procuro 
já meio falho de fé. 
Eu sei que sendo piá 
pouco entendes de mulheres 
que se vão ao deus-dará. 
Faz porém o que puderes 
por esse rabo de saia 
que por sinal é tocaia 
da tua Santa Madrinha 
- madrinha dos que a não têm - 
tocaia ao menos no nome 
porque é Maria também... 

Vou acender sete velas 
- cada vela num moirão - 
e esperarei sete dias 
pela tua intercessão. 

Mas se no sétimo dia 
a china boba Maria 
não voltar pelo seu pé, 
nunca mais, Negrinho maula, 
te darei tenência ou fé! 

Vou acender sete velas 
- cada vela num moirão - 
e esperarei sete dias 
pela tua intercessão. 

Mas se no sétimo dia 
a china boba Maria 
não cruzar esta cancela, 
aonde a sétima vela 
brilhar a sétima luz, 
juro por tua Madrinha: 
- cravo a faca na bainha 
no arremedo de uma cruz! 

Mudo de nome, Negrinho, 
se este arremedo de cruz 
não for cruz na cova rasa, 
nos sete palmos de chão, 
onde as tuas sete velas 
vão servir de sentinelas 
pr'esse mascate ladrão!

domingo, 16 de junho de 2013

Raízes do Sul - Shana Müller

BIOGRAFIA

Shana Müller é cantora da música regional do Rio Grande do Sul. Ela iniciou sua carreira musical no tradicionalismo gaúcho aos 8 anos de idade, tendo participado de várias edições do Fegart/Enart, como solista vocal e integrando os conjuntos vocais de grupos de dança.
Seus primeiros passos na música foram dados a partir da gravação de "Vitória-régia", com o cantor Wilson Paim, música de grande repercussão e que fez com que Shana se firmasse de maneira destacada no meio artístico cultural do estado.
Posteriormente gravou mais duas composições com Paim: "O Beija-Flor e a Rosa" e "Recanto da Esperança", que também tiveram destaque.
Em 2001, junto com o CTG Aldeia dos Anjos, participou do Festival Mundial de Folclore de Drumondville, no Canadá, gravando o disco The Sound of the South Brazil (O Som do Sul do Brasil), interpretando várias músicas do repertório nativista e do folclore rio-grandense.
Além da carreira de cantora, Shana também atua como apresentadora de eventos. É formada em Jornalismo pela PUC-RS e radialista pelo curso da Feplan.

Trabalhou de 2000 à 2006 na Rádio Rural AM 1.120, veículo integrante do setor rural do grupo RBS, onde exerceu as funções de Coordenadora de jornalismo, apresentadora do programa Na Estrada dos Festivais e Revista Rural, além de ter integrado a equipe do projeto de festivais nativistas, transmitindo mais de 100 eventos de várias cidades gaúchas e catarinense.
O ano de 2004 marcou a retomada da carreira de Shana Müller. Com músicas da linha campeira rio-grandense e do folclore latino-americano, a cantora traz em seu repertório o que há de melhor neste estilo e que hoje faz da música gaúcha referência nacional.
Cantando milongas, chamamés, chacareras e zambas argentinas, Shana Müller mostra no palco o que hoje o público das rádios e dos festivais mais admira.
Preenchendo um espaço feminino que existia nesta linha de interpretação, Shana Müller traz em sua voz a garra da mulher gaúcha, cantando o campo, a história e a lida do gaúcho.
Shana tem dois CDs gravados: Gaúcha (2004 – Usa Discos) e Firmando o Passo (2006 – Usa Discos), este último em 2007 recebeu a indicação de Melhor CD Regional no Prêmio Açorianos de Música, oferecido pela Prefeitura de Porto Alegre.
A cantora já participou de diversos festivais de música do estado e já realizou espetáculos também nos estados de SC e PR.
Shana é considerada a cantora revelação da música regional gaúcha e faz parte da nova geração de músicos do Rio Grande do Sul.
Shana Müller atuou em outros países, como Uruguai e Argentina, em festivais de folclore, dividindo o palco com nomes como Luiz Carlos Borges e Yamandu Costa por diversas vezes.
Em junho de 2008, esteve como convidada do show da grande cantora da América Latina, Mercedes Sosa, em Cachoeira do Sul. Shana integra, também o espetáculo Buenas e M’espalho, projeto no qual divide o palco com Érlon Péricles, Cristiano Quevedo e Ângelo Franco.
Fonte: http://www.letras.com.br/#!biografia/shana-muller
Shana Müller - Abre esta Gaita que eu abro o peito num chamame....




sábado, 15 de junho de 2013

Missões Jesuíticas na Fronteira Oeste

INTRODUÇÃO
Tudo remonta ao velho mundo, precisamente dito ao território da Espanha onde na cidade de Loyola(atual município de Azpeitia cerca de vinte quilômetros a sudoeste de São Sebastião no País Basco) nasce aos trinta e um dias do mês de maio de 1491, Iñigo López conhecido como Santo Inácio de Loyola. Filho de família nobre, era o mais novo de treze irmãos. Em 1521 lutando como soldado, foi ferido no combate que visava defender a fortaleza de Pamplona, sitiado por Francisco I da França. Durante o período de recuperação Loyola dedicou-se a leitura da Vida de Jesus a da Legenda Áurea, sobre a vida dos santos. Foi para Paris em 1528, onde conseguiu o título de Professor de Filosofia. Em 1533 Ignácio já tinha seguidores, Pedro Favro, Francisco Xavier, Laínez, Salmerón, Simão Rodrigues e Bobadilha. No dia 15 de agosto de 1534, reunidos na Capela de Saint-Denis, na Igreja de Santa Maria, em Montmartre, fizeram o primeiro juramento de compromisso, inaugurando a "Companhia de Jesus". Em 1537 Santo Inácio e seus amigos viajaram até Itália para procurar a aprovação papal a sua viagem à Terra Santa. O papa Paulo III concedeu-lhes a aprovação e permitiu que fossem ordenados padres. Foram ordenados em Veneza pelo bispo de Arbe em 24 de junho daquele mesmo ano.
Ignatius Loyola – Santo Ignácio de Loyola


 Estes foram os primeiros passos para a construção do que viria ser a maior das Missões executadas em solo latino que galgou ser patrimônio histórico e cultural da humanidade. No decorrer deste trabalho de pesquisa focarei nas missões situadas atualmente em solo gaúcho, com destaque à Redução de São Miguel Arcanjo.
CHEGADA DOS ÌNDIOS ÀS TERRAS MISSIONEIRAS
Há mais de 2.000 anos atrás chegaram ao Sul, índios guaranis, provenientes das matas quentes e úmidas da Amazônia. Migraram para cá pois queriam garantir caça, pesca e terras férteis juntos ao rios Paraná, Uruguai e Jacuí. Unidos a natureza homens e mulheres desempenhavam funções. Os homens, caçavam, pescavam, preparavam a terra para a plantação e produziam armas a fim de defender sua tribo. As mulheres cuidavam do lar, da educação dos filhos, da produção de vestuários e materiais em cerâmica bem como da plantação e da colheita.
Eram os índios os donos das clareiras, organizavam-se em tribos vivendo em aldeias formadas por ocas, estruturas de madeira coberta por fibras vegetais. As ocas abrigavam todos parentes era a “Grande Família” . O mais forte e generoso entre os chefes da família era escolhido para exercer a tão nobre função de Tubichá, o cacique. O encarregado pelas curas e magias eram os Caraí, feiticeiros e sacerdotes dos guaranis. Tudo fluía nas tribos guaranis, tudo eram tão natural sem a presença de “estranhos”, era índio e natureza, mas isso não seria assim. Algo estava para mudar. Despertava pois no velho mundo as ambições de espanhóis e portugueses a par das terras meridionais.
AGORA É A VEZ DOS ESPANHOIS – JESUÍTAS NAS TERRAS DOS GUARANIS
No final do século XV as ambições Espanholas levou-os a descobrir em 1942 a América através da pessoa de Cristóvão Colombo. Logo após, na tentativa de reduzir as disputas por terras, portugueses e espanhóis fizeram um acordo, concebido como se a terra fosse tábua de mesa. Foi o Tratado de Tordesilhas, que dividia a América em duas grandes porções. Nessa época, ninguém sabia da existência do Brasil, mas, em consequência nossas terras ficaram divididas. Grande parte do Brasil atual pertencia à Espanha, inclusive as terras do Rio Grande do Sul, o que só foi confirmado anos após, com a chegada dos portugueses em 1500.
Na Europa, a Igreja Católica exercia grandes influências. A fim de combatê-la, surgiu então a REFORMA RELIGIOSA. A igreja reagiu e criou a CONTRA-REFORMA, promovendo mudanças, através da criação de novas congregações religiosas. Dentre elas, a Companhia de Jesus, em 1540, fundada por Inácio de Loyola. Com sua organização rígida, com disciplina quase militar, a Companhia forneceu catequizadores (padres jesuítas) para fortalecerem a presença da igreja Católica e contribuir na ampliação do Império Colonial.
As primeiras visitas para converterem os índios foram chamadas de Missões, um tipo de catequese, que não trouxe os resultados esperados pelos padres jesuítas, pois os índios voltavam logo aos costumes da vida guarani.
O governo espanhol precisava garantir a posse dos territórios conquistados e defender as fronteiras já estabelecidas, além de controlar a cobrança dos impostos. Foi por tais motivos que os espanhóis organizaram as reduções, em locais definidos para controle, defesa e catequização. A partir das reduções, os padres passaram a ter mais recursos para defender os índios da ameaça de serem escravizadas pelos bandeirantes paulistas e pelos comendadores espanhóis.
Em 1607, foi criada a PROVÍNCIA JESUÍTICA do PARAGUAI, que se tornou a maior ação social e cultural de catequização de índios americanos. Os primeiros povoados missioneiros foram fundados pelo jesuíta Antônio Ruiz de Montoya, nas terras férteis do Guairá, território do atual estado do Paraná. Outros jesuítas chegaram ao Itatim, no atual Mato Grosso.
A docilidade dos índios guaranis atraiu a cobiça e a ganância dos aventureiros, que vinham em busca de escravos. Para se protegerem das bandeiras de apresamento de índios, auxiliados e acompanhados pelos jesuítas, os guaranis abandonaram estas regiões e foram se estabelecer no TAPE terras do atual Rio Grande do Sul.

                                          PRIMEIRAS REDUÇÕES

Em 1626, o Padre Roque Gonzalez fundou a redução de São Nicolau, às margens do rio Piratini. Nos dez anos seguintes, surgiram dezoito novas reduções, dentre elas Assunção do Ijuí, Candelária e Caaró, onde o Padre Roque foi morto, em 1628.

Tanto esforço e logo tudo é reduzido a nada. Os bandeirantes Raposo Tavares (1636), André Fernandes (1637), Fernão Dias Paes (1637/38) e Domingos Cordeiro (1638) chefiaram a agressão indomável dos índios tupis paulistas contra os guaranis, índios infelizes e impotentes no enfrentamento com armas de fogo.
Em 1640, dá-se a RESTAURAÇÃO em Portugal. Os missionários conseguiram autorização do governo espanhol para armarem os índios com arcabuzes para poder se defender dos ataques dos bandeirantes. Os índios treinados e comandados pelos irmãos jesuítas derrotaram a Bandeira de Jerônimo Pedroso de Barros, em 1641, na batalha fluvial de M’Bororé. Assim, terminou o ciclo de investidas escravagistas, pois os guerreiros guaranis derrotaram quase dois mil bandeirantes.
Mas as reduções do Tape ficaram arrasadas. Padres e índios mudaram-se para a margem direita do rio Uruguai, deixando o gado, que haviam trazido em 1634, graças à ação dos jesuítas Cristóvão de Mendonça auxiliada pelo Padre Romero. Nas pastagens naturais, o rebanho solto reproduziu-se livremente, dando origem à Vacaria do Mar, atual área da pecuária do RS e da República do Uruguai.
Com a autonomia de Portugal, em 1640, ingleses, franceses, holandeses também foram atraídos pelas riquezas da América. O tráfico de negros para o Brasil foi intensificado. O Rio Grande do Sul despovoado e sem riquezas minerais, não despertava mais ambição dos paulistas. Suas cobiças foram voltadas ao descobrimento de matas e pedras preciosas. Por tais motivos, não houve mais bandeiras a devastar nossa região.
Em 1682, os jesuítas e os índios começaram a retornar à margem esquerda do rio Uruguai, às terras do atual Rio Grande do Sul, fundando os Sete Povos das Missões. Foram eles:
● São Francisco de Borja (1682); - pelo Padre Francisco Garcia.
● São Nicolau (1687);
● São Luiz Gonzaga (1687);
● São Miguel Arcanjo (1687) foi a capital;
● São Lourenço Mártir (1690);
● São João Batista (1697); foi fundada pelo músico e arquiteto Padre Antônio Sepp, que por ter sólida instrução de música vocal e instrumental, o que lhe deu grande destaque como músico. Os instrumentos de sua orquestra foram feitos por ele e seus discípulos. Extraiu o primeiro ferro das Missões, fazendo instrumentos de toda espécie, bem como os sinos do seu povo. Sua obra-prima foi o relógio da torre da igreja que, ao dar as horas, fazia desfilar, pelo mostrador, as imagens dos doze apóstolos.
● Santo Ângelo Custódio (1706). Antes de fundarem cada aldeia, os jesuítas cuidavam para que a escolha recaísse em lugares altos, de fácil defesa, com matas e água abundante. Com alguns índios, iniciavam as plantações e as construções provisórias. Quando as lavouras já estavam produzindo, vinham as famílias, que começavam a erguer as casas projetadas pelos padres. As povoações cresciam em quarteirões regulares, conforme a arquitetura e o urbanismo típicos dos espanhóis, e idealizado pelo Padre Roque Gonzáles, muito antes de morrer.
Com o trabalho coletivo dos índios e a coordenação geral dos jesuítas, surgiram os "30 Povos das Missões", em áreas que hoje fazem parte do Brasil, Argentina e Paraguai.
A etnia dos Sete Povos foi constituída basicamente pelo índio Guarani, do grupo Tape. Muitos dos costumes guaranis foram submetidos ao rigor da orientação religiosa, desestruturando a vida das famílias indígenas.
O plano urbanístico de cada redução estava assim constituído:
Toda a redução tinha a praça como centro e a igreja como prédio mais importante. Junto à igreja ficavam a residência dos padres, o colégio, as oficinas, o cemitério e o Cotiguaçu. A casa dos caciques e o Cabildo contornavam a praça.
O edifício mais suntuoso, mais vistoso era o TUPÃ-OGA, a CASA de DEUS, ou seja, a igreja, que cada povo esmerava-se para fazê-lo mais importante.
Na frente da igreja, estendia-se a enorme praça, onde as festas, torneios, exercícios militares se realizavam. Cercavam a praça, em fileiras paralelas, as casas do povo, todas uniformes, feitas de pedra, com alpendres e cobertas por telhas. Tais casas abrigavam a "grande família", conforme a tradição indígena. O
alpendre de uma casa juntava-se com a da outra, permitindo voltear um quarteirão sem tomar sol ou chuva. As casas não tinham janelas, mas tinham de 6 a 8 portas de cada lado, determinando tantos quartos, que eram necessários para cada família. As divisões internas eram feitas com couro ou esteiras, se necessário.
Os indígenas dormiam em redes de algodão, que serviam também de cadeira, quando não estavam em cadeiras de madeira ou ainda de cócoras ou no chão.
Num dos lados da igreja, estava o cemitério, em geral a oeste. Ao lado deste, ficava o COTIAGUAÇU, a casa grande, que abrigava as viúvas, as mulheres sozinhas e os órfãos sempre numerosos devidos às constantes guerras com os portugueses e amparados pelas famílias.
No outro lado da igreja, ficava o colégio, em alas, abrigando-se, entre elas e a igreja, um grande pátio cercado por alpendre, onde era ministrado o ensino. No colégio, só estudavam os meninos filhos de caciques e administradores; as meninas aprendiam "prendas domésticas". Ao lado do colégio, ficavam as oficinas, que ladeavam também um grande pátio cercado de alpendre, onde trabalhavam os artistas.
As casas públicas, iguais às particulares, como depósito de mantimentos de armas, a casa dos caciques e do cabildo. O Cabildo ladeava a rua central e era a sede da administração municipal, uma espécie de Prefeitura Municipal.
Na enfermaria, localizada ao lado do cemitério, atendiam-se os doentes em estado mais grave ou que apresentavam perigo de contágio. Os doentes comuns ficavam em suas próprias casas, onde os enfermeiros os visitavam duas vezes ao dia.
Os índios eram enterrados no cemitério, os jesuítas ficavam enterrados na igreja, junto ao alto mor. Atrás da igreja, os padres mantinham a horta, o pomar e o jardim.
Nos locais de água, a população construía fontes de pedras para se abastecer, lavar a roupa e tomar banho.
Na periferia da redução ficavam os TOMBOS, onde se hospedavam os visitantes, para evitar o contato direto dos índios com os estrangeiros. Era a hospedaria, o hotel da época, nas missões.
Os guaranis das missões deviam respeitar o rei espanhol e pagar os impostos, através de serviços prestados, construindo fortificações e defendendo o
território. Estavam subordinados aos governos de Assunção e Buenos Aires, que exerciam uma fiscalização rigorosa. Em Em cada redução havia apenas dois padres, um cura e um auxiliar, para coordenar todas as atividades.
A agricultura mereceu sempre um cuidado especial para se prover à alimentação dos índios.
Como previam as leis espanholas, os índios deviam trabalhar quatro dias na semana no ABÃ-BAÉ a "Terra do Homem", terras particulares, que garantiam o sustento da família. Outros dois dias eram dedicados ao TUPÃ-BAÉ, a "Terra de Deus", terras coletivas, que produziam alimentos para quem trabalhava no campo. Parte da produção do TUPÃ-BAÉ era trocada por mercadorias, que não eram produzidas nas reduções. Uma por ano, uma barca levava para Assunção a Buenos Aires o excedente comercializado pelos jesuítas.
Os bois e os instrumentos, que utilizavam na agricultura eram sempre de TUPÃ-BAÉ. Os índios cultivavam milho, mandioca, abóbora, algodão, cana, hortaliças, árvores frutíferas.
A criação de gado fazia-se em estâncias longe dos povos. A propriedade era sempre da comunidade. A estância de São Miguel era Santa Tecla, no atual município de Bagé, distante quase 600 km, São João, no Tupanciretã, e outras. Nessas estâncias também se criavam cavalos, ovelhas, cabras, porcos, galinhas.
Os índios também se serviam do leite, couro e sebo. Estes últimos eram muito cotados na época.
Em 1709, os jesuítas fundaram a VACARIA dos PINHAIS, em terras do atual município de VACARIA.
Música, canto, dança teatro, desenho, pintura e escultura foram os recursos usados pelos jesuítas, como apoio à catequese. Desde pequenos, alguns índios aprendiam a tecer e a fabricar instrumentos musicais com cópias originais europeias.
Os guaranis tinham capacidade para criar, para copiar. Eram escultores, cantores, músicos, impressores, pedreiros, ferreiros, cujos trabalhos evidenciam a presença dos traços culturais indígenas na produção.
Nessa época, não havia fábrica, mas oficinas e todos trabalhavam sob a orientação de um mestre. Os guaranis tiveram, como mestres, muitos jesuítas de formação sólida, nas ciências e nas artes. Entre eles, destacamos o Padre Antônio Sepp, quem incentivou a música, a botânica, iniciou a fundição de ferro; o padre José Brasanelli, arquiteto e escultor; o Padre João Batista Primolli, responsável
por grandes obras, como a igreja de São Miguel Arcanjo. Imprimiram livros, criaram esculturas, pinturas, relógios de sol, sinos.
Todos os artífices trabalhavam pela comunidade e moravam na comunidade.
O ferro extraído, no povo de São João Batista, foi uma iniciativa do Padre Antônio Sepp, inclusive sua fundição serviu para a fabricação do sino e do relógio da igreja, por ele mesmo fabricado.
Nos Sete Povos das Missões, extraía-se erva-mate, ferro e madeira. A erva-mate era buscada a grandes distâncias como na Serra de Botucaraí, na área do atual município de Soledade e na mata do Uruguai. Logo, os índios aprenderam a fazer mudas e plantaram grandes ervais.
A madeira era extraída para o uso do povo e com ela foram feitas muitas obras de arte como imagens, candelabros e outras.
Os índios Guaranis das Missões vestiam-se conforme a orientação dos padres jesuítas. As roupas de uso comum eram feitas pelas donas de casa. Umas faziam o fio, outras teciam. Todas confeccionavam as roupas para o uso doméstico. As melhores confecções eram reservadas para as viúvas e órfãs. O sacristão confeccionava as alfaias da igreja.
Homens e mulheres recebiam, em princípio, um traje por ano e as crianças dois. O tecido e o corte eram uniformes.
Os homens trajavam um gibão e culote, semelhantes à roupa dos espanhóis e, por cima, uma blusa de pano branco (o poncho dos gaúchos). As mulheres trajavam um vestido sem mangas, que descia até os calcanhares, chamado de TIPOY, amarrado à cintura com CHUMBÉ. Não havia pessoa andrajosa nas missões.
Os índios não se acostumaram ao uso de meias e sapatos, usando - os forçadamente somente em ocasiões especiais.
O FIM DAS MISSÕES
Em 1750, o Tratado de Madrid determinou novos limites na área do estuário do Prata. Tal acordo causou grande descontentamento entre índios, provocando a GUERRA GUARANÍTICA, de 1754 a 1756, liderada por Sepé Tiarajú.
A guerra não resolveu as questões de limites, mas fez com que Portugal e Espanha voltassem atrás nas suas decisões.
Mas já não existia mais entusiasmo como antes, nem mesmo a condição de vida era as mesma.
Na Europa, cresciam as pressões contra a igreja e os jesuítas foram acusados de liderarem a Guerra Guaranítica. Com as manobras políticas, os padres acabaram sendo expulsos dos territórios da América, em 1767, quando Carlos III, rei da Espanha, assinou o decreto. Em 1768, terminou o apostolado jesuítico nas missões.
Os jesuítas foram substituídos por curas de outras congregações e por administradores civis.
Assim terminou a prosperidade dos celebrados aldeamentos, acabando-se a tranquilidade e o bem estar dos guaranis. Começou o êxodo. Em 1801, a população era muito pequena na região.
Dos Sete Povos das Missões e as reduções, que existiram no Rio Grande do Sul, restam hoje vestígios de São Nicolau, São Lourenço Mártir, São João Batista e São Miguel. sendo este declarado Patrimônio Histórico da Humanidade, pela UNESCO, em 1983, além do grande acervo de imagens missioneiras, no Museu das Missões em São Miguel das Missões.
Estudar as Missões e as Reduções é reconhecer os marcos que ficaram na face da América.
A história das missões é uma das raízes da cultura regional gaúcha, que faz parte de variedades de culturas, que integram a identidade brasileira.
Fotos de São Miguel das Missões












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sexta-feira, 7 de junho de 2013

Medicina Campeira, a cura através das ervas do pampa

Há anos estes pagos eram colonizados por portugueses, espanhóis provenientes muitos deles de uma região conhecida como Península Ibérica que fora colonizada por sabias tribos Celtas. Estas tribos possuíam um conhecimento muito vasto e sabiam como ninguém praticar a cura e fazer uso das ervas encontradas na natureza. Dentro dos celtas havia a figura do druida, o mago que dominava os conhecimentos da filosofia e equilibrava-se com a natureza de forma harmoniosa e magica. Destacava-se também as Estreghe ( mulheres) que tinham um vasto conhecimento das ervas do campo e alijadas com santos católicos faziam benzeduras e por isso ficaram conhecidas como “ benzedeiras”. Foi no período da Colonização Portuguesa que muitas destas famílias de origens celtas vieram colonizar o Rio Grande do Sul e desbravar a pampa trincheirando mistérios e perigos que jazia nestes pagos. Aqui, em solo pampiano estas benzedeiras encontraram céu aberto longe das fogueiras e da Inquisição Romana estudaram as plantas endêmicas e delas galgaram a cura para diversos males cotidianos.
Neste período a medicina caseira ou campeira teve seu espaço consagrado e até hoje aqui no garrão da pampa usamos destes conhecimentos para sanar alguns males que por ventura nos afetam. São muitas as ervas que usamos. Abaixo segue as mais conhecidas e comuns de serem encontradas.:
CIPÓ-CABELUDO: serve como diurético poderoso no combate da albumina (tanto a folha quanto o próprio cipó).
ERVA-CIDREIRA: atua como calmante para o estomago e possui propriedades refrescantes (usa-se as folhas)
ERVA-DE-BICHO: é específico no combate das
hemorroidas, varizes; combate o nervosismo e a histeria. Obs.: Não deve ser usada por gestantes (usa-se as folhas).
ERVA-DE-PASSARINHO: atua como tônico pulmonar de grande ação descongestionante, indicado em todas as infecções do aparelho respiratório (usa-se a folha).

FUNCHO: eficaz para as cólicas intestinais e flatulências (utiliza-se o ramo)
GUACO: usado nas tosses e bronquites, bom depurativo do sangue (utiliza-se a folha)
MALVA: ante-infeccioso, descongestionante, uso interno e externo (a folha)
MAMICA-DE-CADELA:é poderoso cicatrizante nas úlceras gástricas (utiliza-se a casca)
MACELA: eficácia estomacal, diurético, nas cólicas intestinais e na má digestão (usa-se a folha e a flor)

HORTELÃ: nos casos de má digestão, cólicas intestinais, flatulência e vermes (a folha)
JURUBEBA: em todos os males hepáticos, nas doenças do baço e nas febres biliosas (a folha e a flor)
LOSNA: atua contra os males estomacais.

POEJO: usado no combate a tosses e cólicas estomacais (a folha).
QUEBRA-PEDRA: eficaz no combate às areias e aos cálculos renais, com algum efeito diurético (toda a planta).

SALSA-PARRILHA: depurativo e tônico do sangue, empregado nos casos de má circulação; grande diurético (a raiz).
URTIGA: urticária, contra hemorragia, alergias, nos casos de intoxicação (toda a planta).

SABUGUEIRO: ajuda na transpiração nos casos de gripe, muito usado no sarampo. Deve ser tomado sempre quente (toda a planta).
PATA-DE-VACA: poderoso diurético com ação nos casos de diabete (a folha).
Fonte: Entrevista com Evani da Costa. Jacaquá-Alegrete/RS, 30 de maio de 2013.
Publicada por Clóvis Trindade em 7 de junho de 2013.