sábado, 12 de abril de 2014

Conto: A noiva da torre

Parte I
ACTO I

Corria o ano de 1922, a cidade toda estava alvoroçada. Corriam rumores nos quatro cantos do Alegrete de um grande casamento. Os noivos, muito distintos, de famílias nobres e valorosas resolveram unir seus brasões tal qual Aragão e Castela. Ele o nubente pertencia a estirpe açoriana, moço de grandes posses, suas terras estendiam-se pelas margens do Itapeguy que outrora fora do Couto Rico. Ela, uma linda jovem descendente de bravos e aguerridos italianos, sabia todas as prendas da casa e possuía um conhecimento invejável debatia de igual para igual com mestres e doutores. Pra via de regra, toda a região estava convidada para a cerimônia.
Lá no Itapeguy o noivo abatia duas novilhas e um porco que foi cachaço mas já castrado a mais de mês. A família do noivo ajudaria com as bebidas, a carne e as linguiças para o churrasco ao passo que a noiva colaboraria com os doces, saladas e o espaço para a realização dos comes e bebes. Estava tudo preparado, todos convidados, uma lista com mais de 2000 nomes, o vigário disse que não caberia tanta gente em sua igreja. Tudo estava nos trinques, vestido de noiva pronto, flor de laranjeira, véu e grinalda devidamente arrumados. A data já foi decidida, seria para o próximo dia 7 de abril data em que teria nascido o patriarca da família do nubente.

ACTO II

Era chegada a data tão esperada. A praça foi fechada para o publico, apenas deslumbrantes carruagens estacionavam ao redor dela. Era gente de todo o Alegrete, as mais distintas família reunidas na Igreja Matriz confraternizavam, colocavam a conversa em dia, discutiam heranças e até apostas de carreira e tava. A Igreja estava lotada, o vigário nunca tinha celebrado um casório com tanta gente assim, ele estava temeroso em errar alguma parte e passar vergonha na frente do Arcebispo de Porto Alegre que se fazia presente já que este era tio do noivo.
Na entrada lateral da Igreja o tumulto era grande, havia o desfecho uma discussão entre dois estancieiros do Queromana, o motivo era os inventários dos campos do finado Luiz Antunes de Moraes Filho, um alegava ter sido logrado pelo outro. Um dizia que a ele havia tocado só mato e cerro ao passo que para o outro o banhado e a cochila. O arranca toco era grande, puxaram armas brancas, quase que teve um embate de espadas se não fosse a intervenção da viúva Maria que ameaçou os exaltados com uma garrucha que ela portava debaixo da saia presa junto a bombachinha.
Em altas, de uma lado para o outro encontrava-se o noivo no altar acompanhado de sua mãe e padrinhos. A coisa estava por demais atrasada. O nubente temia que a doce amada o deixasse na espera eterna, porque ele mesmo jurou a ela se não casasse com ela não casaria nunca mais. Para executar a marcha nupcial foi contrata uma banda da capital, indicada pelo arcebispo. Os bacudos estavam espantados pois nunca haviam visto tamanho luxo antes. A igreja decorada a capricho como se fosse receber o Imperador ou o Presidente. Todos estavam a espera da noiva.

ACTO III

De um instante inesperado os sinos badalarão no alto da torre, a marcha irrompe entre o murmurio do povo, a noiva silente e doce adentra a igreja e desfila pelo belo tapete vermelho digno de uma imperatriz. Pelos aripiados, coração dispara no peito e para delírio da plateia o noivo desmaia no altar. Foi um Deus me acuda, mas graças as preces incessantes do padre o noivo volta a sua lucidez. A noiva que havia parado na entrada continua a desfilar acompanhada de seu pai, ao passo que se aproxima do altar o coração fica cada vez mais pulsante, parece que carrega no peito um panela cheia de pipocas em plena rebelião.
Chega até o altar, o noivo a toma e jura cuidar bem dela ao futuro sogro. Trocam olhares de amor, ele a conduz até o altar-mor onde o vigário aguardava ansioso e já meio enxaguado visto que o nervosismo o fez beber o vinho da missa de domingo. Conduz, o vigário, com toda as regras da Igreja Romana os tramites da celebração, ele fez tudo bem feito, havia ensaiado a meses desde que se teve notícia do namoro dos noivos. O padre começa com uma linda pregação, depois avança para a troca das alianças e promessas mutuas, posterior a isso ele faz a pergunta derradeira: "Se alguém aqui tem algo a dizer que possa impedir esta união.... fale agora ou cale-se para sempre". O silêncio era total, a igreja toda, pela primeira vez, encontrava-se quieta. Parecia que não havia nenhum impedimento. Parecia....

ACTO IV

O silêncio foi quebrado. Adentrou a igreja acompanhado de um turbilhão de palavras de ordem, batidas de bota no piso, tinir de chilenas na sala um gaúcho de veras capitão. Era um moço novo, regulava de idade com a noiva. Firminêncio Antônio José de Vargas, neto do sesmeiro. O capitãozinho reclamava o direito de casar-se com a noiva visto que ele já havia namorado anteriormente com ela e que o casamento estava até marcado, ela havia sido prometida a ele mas que seus pais haviam brigado por conta de alguns ex escravos que se meteram em brigas na bolicho do Tinhoco.
Mas a verdade é que a noiva ainda nutria um sentimento especial pelo Firminêncio, ele foi seu primeiro amor. O noivo sabia que sua mada ainda o amava, tanto foi que propôs uma solução para o episódio. Desafiou o jovem capitão para um duelo de espadas, iriam duelar pelo coração de Jussara. Quem ganhasse o embate casaria com a noiva.
Então pegaram as espadas paroquiais, sim o vigário tinha duas espadas estupendas que eram da paróquia, e foram-se para o centro da praça. Logo que saíram da igreja uma multidão de curiosos seguiu como uma mancha até de fronte ao Manequinho! Mas os duelantes optaram por pelejar solito sem plateia, ordenaram que todos voltassem para a igreja e esperassem pela chegada do vencedor. O padre logo convocou as beatas para rezarem um terço, e cobrava alguma atitude da família da noiva. O pai da noiva já havia lavado as mãos em água benta, disse que não faria nada e que o problema não era dele mas sim do Atilano e do capitão.

ACTO V

Os dois começaram o fatal embate, apenas serviu de testemunha ocular o Manequinho, espadas cruzavam-se no ar liberando o fatídico fogo do aço. A peleia era grongueira, só ouvia-se de la da igreja o tinir das laminas. Ninguém poderia apartar aquela briga tenebrosa, a aposta era o coração da doce noiva.
A noiva já em pandarecos resolveu dar um basta em tudo isso. Aconteceu que ela subiu no ponto mais alto da torre e gritou aos quatro ventos que iria cometer suicídio se a briga não sessasse. Os dois no mesmo momento ficaram perplexos, não acreditavam no que estavam vendo. Como que ela conseguira subir tão alto e de vestido, foi uma escalada árdua pelo exterior da nave central.
O vigário farto desta situação e pretendendo lavar a honra de sua celebração pegou a garrucha paroquial, a bíblia e a cruz e foi até a praça apartar o mosquedo e aproveitar para impressionar o arcebispo aplicando um grande sermão nos jovens exaltados, incluindo a noiva da torre. Logo chegou o padre no centro da praça e deparou-se com os combatentes parados, tentando impedir o ato de suicídio da nubente.
Mas parece que a noiva conseguiu acabar com a briga, teria ela agora que decidir com quem casar. Casaria-se com seu primeiro amor? Ou render-se-ia a uma nova paixão? O que você acha? Confira no Livro II este grande desfecho!!!

A NOIVA DA TORRE - Parte II 
Relembrando:


ACTO V
A noiva já em pandarecos resolveu dar um basta em tudo isso. Aconteceu que ela subiu no ponto mais alto da torre e gritou aos quatro ventos que iria cometer suicídio se a briga não sessasse. Os dois no mesmo momento ficaram perplexos, não acreditavam no que estavam vendo. Como que ela conseguira subir tão alto e de vestido, foi uma escalada árdua pelo exterior da nave central.
O vigário farto desta situação e pretendendo lavar a honra de sua celebração pegou a garrucha paroquial, a bíblia e a cruz e foi até a praça apartar o mosquedo e aproveitar para impressionar o arcebispo aplicando um grande sermão nos jovens exaltados, incluindo a noiva da torre. Logo chegou o padre no centro da praça e deparou-se com os combatentes parados, tentando impedir o ato de suicídio da nubente.
Mas parece que a noiva conseguiu acabar com a briga, teria ela agora que decidir com quem casar. Casaria-se com seu primeiro amor? Ou render-se-ia a uma nova paixão? O que você acha? Confira no Livro II este grande desfecho!!!
ACTO I
FIM



Os dois começaram o fatal embate, apenas serviu de testemunha ocular o Manequinho, espadas cruzavam-se no ar liberando o fatídico fogo do aço. A peleia era grongueira, só ouvia-se de la da igreja o tinir das laminas. Ninguém poderia apartar aquela briga tenebrosa, a aposta era o coração da doce noiva.
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O vigário farto desta situação e pretendendo lavar a honra de sua celebração pegou a garrucha paroquial, a bíblia e a cruz e foi até a praça apartar o mosquedo e aproveitar para impressionar o arcebispo aplicando um grande sermão nos jovens exaltados, incluindo a noiva da torre. Logo chegou o padre no centro da praça e deparou-se com os combatentes parados, tentando impedir o ato de suicídio da nubente.
Os noivos, é pois agora parece que temos 2 noivos, saíram em disparada rumo a igreja deixando o vigário no vazio a admirar o manquinho. Chegam na escada que da acesso a torre mas antes que eles subam o padre adentra pela porta frontal da igreja enfurecido, com sangue nos olhos e parte com bíblia e tudo para cima dos noivos. Acidentalmente o padre é ferido pelo fio de uma das espadas. Quem matou o padre? Ora pois foi o Firminêncio. A viúva Maria, que tinha apartado a briga na lateral da Igreja, ela aos prantos foi até o corpo do padre agonizando no chão, ao lado pegou a cruz e deu uns tabefe no seu filho Ferminêncio. Filho aliás que não era do seu finado marido, mas sim do vigário. Sim, Ferminêncio acabara de matara seu pai, mas que diacho ele mesmo não sabia que era filho do padre. Mas é como diz o ditado, não adianta chorar pelo leite derramado!

ACTO II

A velha viúva esta possessa. Se bem que ela não esta de posse de suas sanidades mentais, isso deve-se a trágica morte de seu marido. Mas ninguém naquele igreja, nem o bispo poderia imaginar o que a viúva Maria ia fazer. Sim, ela esta completamente louca. Buscava culpados para todo aquele episódio, estava disposta a cometer uma chacina na igreja. E cometeu.
A viúva louca, pegou a sua arma que carregava debaixo de suas vestes, engatilhou e matou friamente seu filho Firminêncio, o noivo Atilano e depois se matou. Santos, Alegrete nunca tinha visto uma tragédia destas. A igreja estava lotada mas aos poucos os populares iam saindo, providenciando os funerais e avisando as autoridades policias. A policia não havia se manifestado, o delegado entendeu que era apenas uma discussão de família, não havendo motivos para a interferência militar.

ACTO III

A noiva, desce assustada da torre. Completamente desolada com o que vê na frente de seus olhos. Nem faz questão de ir para casa ou procurar seus pais, ela chorando sai pela cidade em uma maratona e acaba se atirando da ponte do trem. Uma verdadeira tragédia grega. O bispo, tio do Atilano fica completamente escandalizado com o que presenciou. Em um momento de fraqueza resolve ir até o bolicho mais perto para tomar uma cachaça pura, das boas que só tem no Alegrete.
Sorvendo o suco da cana, ele recorda seus tempos de juventude quando era um moço novo e não havia entrado para o seminário. Em um vai e vem de lembranças e sentimentos ele se lembra da linda Anna, dos tempos que namoraram e da traição dela que ficou gravida do seu melhor a migo Manuel. Em virtude da gravidez Anna casou-se com Manuel e ele foi para o seminário.
Anna, após o casamento teve uma linda filha, a doce Jussara, a nossa noiva que cometeu suicídio na ponte do trem. Mas o bispo mais tarde soube que Jussara era sua filha e não do Manuel. Agora ele tinha perdido uma filha e um sobrinho. Estava bêbado, afogado nas lembranças, eis pois que resolve ir até a casa da Anna a fim de contar para o Manuel que a Jussara era filha dele e que eles foram enganados pela Anna.

ACTO IV

Completamente bêbado e fora de si, o bispo chega na casa do Manuel. Anna estava muito desolada e Manuel a espera do resgate do corpo da filha das águas do Ibirapuitã. Sem nem um boa tarde se quer o bispo larga as palavras calando, diretas e retas com uma frieza nunca dantes vista. Manuel se exalta e questiona Anna a cerca do que o bispo esta falando.
Anna chora, não diz nada, apenas chora. Manuel entende que havia sido traído, havia criado uma unica filha e que não era sua. Enfurecido pega a espada que trás exposta na sala, acima do brasão da família perto da lareira e perfura o ventre mentiroso de Anna. Logo Anna sucumbe e esvaída em sangue agoniza até a morte.
Manuel não deseja perdoar ninguém, perfura também o peito do bispo que embriagado não demonstra reação, cai no tapete vermelho da sala e more. Logo alucinado Manuel vai até o quarto dos fundos, pega uma corda e a amarra em seu pescoço. Depois põe um banco e sobe, ata a corda no caibro da casa e joga-se do banco. Em instantes, falta-lhe o ar, sufocado morre enforcado.
Considerações:
Enfim, um final trágico. Um episódio que tinha tudo para ser um lindo enlace acaba em uma fatal tragédia. Todos mortos! Restou apenas os observadores populares, os convidados e os curiosos como eu que tratei de registrar essa história incrível e surpreendente.
Todos mortos, todos vivos? Todos são, ou tudo é? O que sobra é a lembrança de um dia em que Alegrete chorou mais do que as águas do Ibirapuitã. Um trágico dia marcado na história e na memória de alguns que lembram-se deste dia inesquecível como a dia da Noiva da Torre! 

Termos pertencentes aos Regionalismo Gaúcho, vide o Dicionário de Regionalismo On Line!  




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