segunda-feira, 17 de junho de 2013

Raízes do Sul - Apparício Silva Rillo

Biografia

 Filho de engenheiro-agrônomo e zootecnista Marciano de Oliveira Rillo e de Dona Lélia Silva Rillo - o pai era natural de Uruguaiana e sua mãe nascida em Guaíba - , Apparício Silva Rillo nasceu em 8 de agosto de 1931, no hospital São Francisco, em Porto Alegrete. Poeta,compositor e autor de obras teatrais Apparício guarda muito grato as suas lembranças dos nove anos que residiu em Guaíba, foi neste período que nasceram seus irmãos mais novos.
                                              O poeta ao 2 anos com seu primo
                                                           Em Guaíba

Em 1982, em alusão ao tricentenário da fundação histórica de São Borja, recebeu Silva Rillo o titulo de cidadão São-Borjense já que este prestava relevantes serviços na extinta Casa Irmãos Pozueco- grande compradora de lã, couros, peles ovinas e selvagens, pelegos trigo e linhaça-, casa de grande renome nas Missões e fronteira. Desde então Silva Rillo viveu e compôs em São Borja até 23 de junho de 1995, dia se sua morte.
Dentre suas grandes obras podemos citar suas poesias:  O pai nas Fotografias, Pago Vago, Pala de Seda, Para Moça Rosa, Perfil, Pesca, Petiço Velho, Pipa D'água, Oração e contra-oração ao negro do pastoreio e tantas outras.
                                          Começou a tocar violão com 5 anos

       No tempo do linho branco...Em Guaíba
            1949, com a quem viria ser sua esposa
            Recebendo a Calhandra de Ouro na V Califórnia  da Canção Nativa
                                                    Em Uruguaiana 1975...
                                   E, finalmente aos 53 anos em São Borja
                                   Foram-se os cabelos. Os versos ficaram...

Vejamos algumas poesias de Apparício Silva Rillo:

Pipa D'água
Apparício Silva Rillo

Sobre um rodado leve de carreta, 
puxada por um petiço 
mui velho, lerdo e maceta, 
esta pipa veterana 
- no inverno cada semana 
e no verão diariamente - 
cobria meia légua de distância 
no santo ofício de suprir a estância 
com a pureza das águas da vertente. 

Assim foi anos a fio... 
E fruto dessa constância, 
dessa labuta sem tréguas, 
no estirão da meia légua, 
entre a vertente e a estância 
se cavaram muitas trilhas. 
E assim, olhadas de longe, 
serpeando pelas macegas, 
mais parecem cobras cegas 
subindo pelas coxilhas. 

Certo dia, 
uma estranha geringonça 
levantou-se na paisagem. 
E a velha pipa, de volta 
da derradeira viagem, 
foi deixando um rastro d'água 
respingado no capim. 
Rebenqueada pela mágoa 
a velha pipa andarenga 
chorava o seu próprio fim. 

Agora,
exposta à sanha do tempo
devagar se desmantela.
Ninguém mais se lembra dela
nem lhe reclama o serviço.
E aquele velho petiço
- seu companheiro de luta -
afastado da labuta
consumiu-se de desgosto.
Morreu quase ao lado dela
num fim de tarde de agosto.

Velha pipa! velha pipa!
dá-me pena ver-te ao léu.
Atirada, sem cuidados,
com os varais levantados
apontando para o céu.

Velha pipa! velha pipa!
são dois braços que suplicam,
esses teus magros varais.
Em vão, em vão, pipa d'água!
porque alheio à tua mágoa,
indiferente aos teus ais,
o esguio moinho-de-vento
girando ao sopro do vento
te responde: - Nunca mais!

Oração e Contra - Oração ao Negro do Pastoreio
Apparício Silva Rillo

Negrinho do Pastoreio, 
afilhado da Senhora 
Mãe de Deus Nosso Senhor! 
Não te vejo nem te escuto 
nesse sem-fim cor de luto 
que se chama escuridão. 
Mas os teus olhos, Negrinho, 
percebem meus movimentos 
e os teus ouvidos atentos 
recolhem a minha oração. 

Negrinho, no fim do mês, 
no que eu bote a mão nos pila 
dessa tropeada de abril, 
eu vou comprar sete velas 
na venda do Geromil. 
E acenderei todas elas, 
- cada vela num moirão - 
e esperarei sete dias 
pela tua intercessão. 

Porque eu ando precisando 
da tua ajuda, Negrinho. 
Tu te lembra da Maria 
que eu levantei na garupa 
lá por volta de dezembro 
do ano que já passou? 
Pode ser que tu não lembre... 
Mas eu nunca me deslembro 
da china boba Maria 
que um mascate carregou... 
Que um mascate carregou! 

Eu não tenho raiva dela... 
Pois não vê que essa chinoca 
sempre foi meio boboca, 
muito fácil de levar. 
Meu avô sempre dizia 
que mulher não se perdoa, 
mas eu tenho a alma boa, 
sei esquecer e perdoar. 

Eu não tenho raiva dela... 
Tenho raiva é desse cuera 
que batendo no meu rancho 
- com parada de carancho, 
mentiroso e pacholão - 
se valeu de minha ausência 
pra levantar com a Maria 
no rumo doutra querência, 
sabe Deus pra que rincão! 

Negrinho do Pastoreio, 
é a Maria que eu procuro 
já meio falho de fé. 
Eu sei que sendo piá 
pouco entendes de mulheres 
que se vão ao deus-dará. 
Faz porém o que puderes 
por esse rabo de saia 
que por sinal é tocaia 
da tua Santa Madrinha 
- madrinha dos que a não têm - 
tocaia ao menos no nome 
porque é Maria também... 

Vou acender sete velas 
- cada vela num moirão - 
e esperarei sete dias 
pela tua intercessão. 

Mas se no sétimo dia 
a china boba Maria 
não voltar pelo seu pé, 
nunca mais, Negrinho maula, 
te darei tenência ou fé! 

Vou acender sete velas 
- cada vela num moirão - 
e esperarei sete dias 
pela tua intercessão. 

Mas se no sétimo dia 
a china boba Maria 
não cruzar esta cancela, 
aonde a sétima vela 
brilhar a sétima luz, 
juro por tua Madrinha: 
- cravo a faca na bainha 
no arremedo de uma cruz! 

Mudo de nome, Negrinho, 
se este arremedo de cruz 
não for cruz na cova rasa, 
nos sete palmos de chão, 
onde as tuas sete velas 
vão servir de sentinelas 
pr'esse mascate ladrão!

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