Filho de engenheiro-agrônomo e zootecnista Marciano de Oliveira Rillo e de Dona Lélia Silva Rillo - o pai era natural de Uruguaiana e sua mãe nascida em Guaíba - , Apparício Silva Rillo nasceu em 8 de agosto de 1931, no hospital São Francisco, em Porto Alegrete. Poeta,compositor e autor de obras teatrais Apparício guarda muito grato as suas lembranças dos nove anos que residiu em Guaíba, foi neste período que nasceram seus irmãos mais novos.
O poeta ao 2 anos com seu primo
Em Guaíba
Em 1982, em alusão ao tricentenário da fundação histórica de São Borja, recebeu Silva Rillo o titulo de cidadão São-Borjense já que este prestava relevantes serviços na extinta Casa Irmãos Pozueco- grande compradora de lã, couros, peles ovinas e selvagens, pelegos trigo e linhaça-, casa de grande renome nas Missões e fronteira. Desde então Silva Rillo viveu e compôs em São Borja até 23 de junho de 1995, dia se sua morte.
Dentre suas grandes obras podemos citar suas poesias: O pai nas Fotografias, Pago Vago, Pala de Seda, Para Moça Rosa, Perfil, Pesca, Petiço Velho, Pipa D'água, Oração e contra-oração ao negro do pastoreio e tantas outras.
Começou a tocar violão com 5 anos
No tempo do linho branco...Em Guaíba
1949, com a quem viria ser sua esposa
Recebendo a Calhandra de Ouro na V Califórnia da Canção Nativa
Em Uruguaiana 1975...
E, finalmente aos 53 anos em São BorjaForam-se os cabelos. Os versos ficaram...
Vejamos algumas poesias de Apparício Silva Rillo:
Pipa D'água
Apparício Silva Rillo
Sobre um rodado leve de carreta,
puxada por um petiço mui velho, lerdo e maceta, esta pipa veterana - no inverno cada semana e no verão diariamente - cobria meia légua de distância no santo ofício de suprir a estância com a pureza das águas da vertente. Assim foi anos a fio... E fruto dessa constância, dessa labuta sem tréguas, no estirão da meia légua, entre a vertente e a estância se cavaram muitas trilhas. E assim, olhadas de longe, serpeando pelas macegas, mais parecem cobras cegas subindo pelas coxilhas. Certo dia, uma estranha geringonça levantou-se na paisagem. E a velha pipa, de volta da derradeira viagem, foi deixando um rastro d'água respingado no capim. Rebenqueada pela mágoa a velha pipa andarenga chorava o seu próprio fim. Agora, exposta à sanha do tempo devagar se desmantela. Ninguém mais se lembra dela nem lhe reclama o serviço. E aquele velho petiço - seu companheiro de luta - afastado da labuta consumiu-se de desgosto. Morreu quase ao lado dela num fim de tarde de agosto. Velha pipa! velha pipa! dá-me pena ver-te ao léu. Atirada, sem cuidados, com os varais levantados apontando para o céu. Velha pipa! velha pipa! são dois braços que suplicam, esses teus magros varais. Em vão, em vão, pipa d'água! porque alheio à tua mágoa, indiferente aos teus ais, o esguio moinho-de-vento girando ao sopro do vento te responde: - Nunca mais!
Oração e Contra - Oração ao Negro do Pastoreio
Apparício Silva Rillo
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Negrinho do Pastoreio,
afilhado da Senhora
Mãe de Deus Nosso Senhor!
Não te vejo nem te escuto
nesse sem-fim cor de luto
que se chama escuridão.
Mas os teus olhos, Negrinho,
percebem meus movimentos
e os teus ouvidos atentos
recolhem a minha oração.
Negrinho, no fim do mês,
no que eu bote a mão nos pila
dessa tropeada de abril,
eu vou comprar sete velas
na venda do Geromil.
E acenderei todas elas,
- cada vela num moirão -
e esperarei sete dias
pela tua intercessão.
Porque eu ando precisando
da tua ajuda, Negrinho.
Tu te lembra da Maria
que eu levantei na garupa
lá por volta de dezembro
do ano que já passou?
Pode ser que tu não lembre...
Mas eu nunca me deslembro
da china boba Maria
que um mascate carregou...
Que um mascate carregou!
Eu não tenho raiva dela...
Pois não vê que essa chinoca
sempre foi meio boboca,
muito fácil de levar.
Meu avô sempre dizia
que mulher não se perdoa,
mas eu tenho a alma boa,
sei esquecer e perdoar.
Eu não tenho raiva dela...
Tenho raiva é desse cuera
que batendo no meu rancho
- com parada de carancho,
mentiroso e pacholão -
se valeu de minha ausência
pra levantar com a Maria
no rumo doutra querência,
sabe Deus pra que rincão!
Negrinho do Pastoreio,
é a Maria que eu procuro
já meio falho de fé.
Eu sei que sendo piá
pouco entendes de mulheres
que se vão ao deus-dará.
Faz porém o que puderes
por esse rabo de saia
que por sinal é tocaia
da tua Santa Madrinha
- madrinha dos que a não têm -
tocaia ao menos no nome
porque é Maria também...
Vou acender sete velas
- cada vela num moirão -
e esperarei sete dias
pela tua intercessão.
Mas se no sétimo dia
a china boba Maria
não voltar pelo seu pé,
nunca mais, Negrinho maula,
te darei tenência ou fé!
Vou acender sete velas
- cada vela num moirão -
e esperarei sete dias
pela tua intercessão.
Mas se no sétimo dia
a china boba Maria
não cruzar esta cancela,
aonde a sétima vela
brilhar a sétima luz,
juro por tua Madrinha:
- cravo a faca na bainha
no arremedo de uma cruz!
Mudo de nome, Negrinho,
se este arremedo de cruz
não for cruz na cova rasa,
nos sete palmos de chão,
onde as tuas sete velas
vão servir de sentinelas
pr'esse mascate ladrão!
afilhado da Senhora
Mãe de Deus Nosso Senhor!
Não te vejo nem te escuto
nesse sem-fim cor de luto
que se chama escuridão.
Mas os teus olhos, Negrinho,
percebem meus movimentos
e os teus ouvidos atentos
recolhem a minha oração.
Negrinho, no fim do mês,
no que eu bote a mão nos pila
dessa tropeada de abril,
eu vou comprar sete velas
na venda do Geromil.
E acenderei todas elas,
- cada vela num moirão -
e esperarei sete dias
pela tua intercessão.
Porque eu ando precisando
da tua ajuda, Negrinho.
Tu te lembra da Maria
que eu levantei na garupa
lá por volta de dezembro
do ano que já passou?
Pode ser que tu não lembre...
Mas eu nunca me deslembro
da china boba Maria
que um mascate carregou...
Que um mascate carregou!
Eu não tenho raiva dela...
Pois não vê que essa chinoca
sempre foi meio boboca,
muito fácil de levar.
Meu avô sempre dizia
que mulher não se perdoa,
mas eu tenho a alma boa,
sei esquecer e perdoar.
Eu não tenho raiva dela...
Tenho raiva é desse cuera
que batendo no meu rancho
- com parada de carancho,
mentiroso e pacholão -
se valeu de minha ausência
pra levantar com a Maria
no rumo doutra querência,
sabe Deus pra que rincão!
Negrinho do Pastoreio,
é a Maria que eu procuro
já meio falho de fé.
Eu sei que sendo piá
pouco entendes de mulheres
que se vão ao deus-dará.
Faz porém o que puderes
por esse rabo de saia
que por sinal é tocaia
da tua Santa Madrinha
- madrinha dos que a não têm -
tocaia ao menos no nome
porque é Maria também...
Vou acender sete velas
- cada vela num moirão -
e esperarei sete dias
pela tua intercessão.
Mas se no sétimo dia
a china boba Maria
não voltar pelo seu pé,
nunca mais, Negrinho maula,
te darei tenência ou fé!
Vou acender sete velas
- cada vela num moirão -
e esperarei sete dias
pela tua intercessão.
Mas se no sétimo dia
a china boba Maria
não cruzar esta cancela,
aonde a sétima vela
brilhar a sétima luz,
juro por tua Madrinha:
- cravo a faca na bainha
no arremedo de uma cruz!
Mudo de nome, Negrinho,
se este arremedo de cruz
não for cruz na cova rasa,
nos sete palmos de chão,
onde as tuas sete velas
vão servir de sentinelas
pr'esse mascate ladrão!
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